Pixações da suástica nazista aparecem no campus da Unesp de Bauru

Conservadorismo e intolerância ganham força no campus, seja por meio do pronunciamento de professores, seja por novas pixações.

      
   As pichações racistas encontradas recentemente no câmpus de Bauru da Unesp deixaram espaço em branco para que mais símbolos de ódio fossem escritos. Depois das ofensas “a Unesp está cheia de macacos”, “as mulheres negras fedem” e “Juarez macaco”, nessa semana encontramos desenhos da suástica nazista no mesmo banheiro e por cima de cartazes contra o racismo. Covardemente, o crime se alastra e mostra que os racistas estão tomando posição, mas sem a coragem de aparecer. A atitude de levantar o fascismo - regime que matou milhões de pessoas - na atual conjuntura mostra que o ódio vai além do absurdo.

       A utilização sistemática da liberdade de expressão como princípio inquestionável tem possibilitado, no contexto político brasileiro, a exposição de atitudes conservadoras, racistas e até mesmo nazistas. Recentemente, o professor universitário João Eduardo Hidalgo aproveitou-se de forma lamentável da oportunidade para manifestar-se no Jornal da Cidade. Indignação essa que não foi motivada pelo crime de racismo, mas pela pouca importância que ganharam as “ofensas” recebidas por ele no ano de 2011, quando estudantes criticaram sua má conduta pedagógica. O absurdo aparece ao comparar a ofensa que sentiu ao ser chamado de “coxa” com as inscrições racistas que diziam “Juarez macaco”, ignorando o fato de que o mecanismo de animalização sobre as pessoas negras funciona, entre outras coisas, como uma forma de desvalorizar suas vidas. Afinal, se são apenas animais, por que se importar com eles?

Em 2013, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontou que, no Brasil, a cada três vítimas de assassinato, duas eram negras - ou seja, 70% dos homicídios. Um estudo da UFSC em 2014 mostra que o preconceito causa 4,4 vezes mais problemas psicológicos e doenças como a depressão, dificuldade de concentração e ansiedade em quem sofre com ele. Em 2011 a pesquisadora da Fiocruz, Maria do Carmo Leal, mostrou que 50% das gestantes negras recebiam menos anestesia durante o parto em relação às brancas. 73% da população mais pobre é negra. Em 2013, 61% das mulheres mortas por feminicídio eram negras. Segundo a Secretaria Nacional de Juventude da Presidência da República, o jovem negro tem 2,5 vezes mais chance de ser morto, representando hoje 77% das vítimas.

Se não bastam esses dados vergonhosos, existem outros. No campus de Bauru, as negras e negros são apenas 3% dos universitários. Entre os funcionários e funcionárias terceirizados, as mulheres negras ocupam os cargos que menos recebem e mais sofrem: além de limpar os banheiros para que os brancos sujem, foram obrigadas a ler e retirar das paredes o que os machistas covardes escreveram. “Negras fedem”. A mulher preta não conseguiria em uma vida processar todos aqueles que a humilharam, abandonaram e violentaram de incontáveis maneiras.

As crescentes demonstrações racistas e de ódio indicam que nosso trabalho enquanto coletivo negro e autônomo tem incomodado. E assim seguiremos, para que nossas irmãs e nossos irmãos enegreçam esse espaço. Frente às novas manifestações de ódio racial, o Coletivo Negro Kimpa reitera a sua posição. Nenhum passo atrás perante o racismo e qualquer outra intolerância. É inocência acreditar que negras e negros deixarão de lutar devido a tais manifestações.

O crime cometido está sendo investigado e a resistência negra não baixará diante dele. O incômodo causado pela presença dos três por cento será cada vez maior, principalmente pela implementação das cotas raciais. Se a universidade e seus professores insistem em negligenciar a permanência dos negros e negras no ambiente público, a resistência lutará por ampliá-la e para isso o debate é cada vez mais necessário. No dia 19 desse mês, o Kimpa realizará um evento na UNESP para discutir o ocorrido no campus e na vida da população negra, trazendo para o debate os funcionários, o professor Juarez, representantes do hip hop e da comunidade negra de Bauru. Nosso ciclo de discussões continua, agora com a temática sobre o mito da democracia racial - essa que proporciona aos racistas de calças baixas a caneta na mão e o comentário na web. Esse escritos serão apagados e o mito será desmanchado. 
Desde já, com tinta negra, anunciamos: Poder ao povo preto!

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