Sobre

Somos o que somos, cores e valores

por Pedro Borges

Nós somos Julia e Agnes. Somos Tia Anastácia e Ivone Lara. Somos também Solon e Vinícius, assim como Martin Luther King jr. e Rubin Carter. Somos somente os 3% de alunos negros da Unesp Bauru, mas representamos todo um povo injustiçado.

Fomos sequestrados sem poder registrar a ocorrência. Levaram João e Andreza de Angola, assim como tentam tirar o samba, o rap, o blues, o soul e o funk de nós. Pensam, inclusive, que esquecemos do rock, também nosso. Tentam matar o samba e o tirar das mãos e dos pés de Felipe e Aline, mas não conseguem. Resistimos e continuamos fortes.

Vemos o futebol perecer, mas resistimos. O senhor de engenho quer a Europa, mas a nossa genialidade vem de Leônidas da Silva, da ginga de Garrincha e da imensurável habilidade de Marta. Endeusam Cristiano Ronaldo, mas sabem que a essência do futebol é Ronaldinho Gaúcho. E não só jogamos ou dançamos com beleza. Nossa cor e nosso cabelo são sim bonitos. Por isso, somos Sandra de Sá e Letícia, do mesmo modo que somos Tim Maia e Flávio.

E se sentimos vergonha, somos os culpados por não gostarmos da nossa pele e do nosso cabelo. Riem de nós. E se assassinam Sabotage, Beatriz Nascimento ou Giovana, não sentem falta, vivem como se apenas mais um negro ou negra entrasse para as estatísticas do maior genocídio da história. Mas resistimos, porque somos Pedro e Naiara.

Mas somos mais, capitão do mato, traficante de escravos, ou Aécio Neves. Não somos apenas o futebol e o samba como querem que sejamos. Somos Carolina Maria de Jesus e somos Machado de Assis. Somos também a ciência no corpo e rosto de Kabengele Munanga e de Bell Hooks. Somos a arte, a sociologia e a cultura libertadora. Se alguém pode guiar a nossa sociedade em busca de um mundo sem opressão de classe, gênero ou cor, somos nós.

Mas se nos perdermos no caminho e não soubermos quem trama e quem drama conosco, temos Angela Davis e Malcom X para nos guiar. Por essa razão, clamamos: rebele-se, escravo brasileiro! Você é a maioria! Não tema os grilhões ou o chicote do senhor de engenho! Sabemos que a Casa Grande ainda existe. Sabemos porque Kimpa nos contou. E Kimpa não mente, ou erra.

Poder ao povo preto!